Odete

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usei os artifícios do cinema e é verdade que procurei o lado onírico dos filmes de Sirk, que me comovem imenso. Acho que o cinema nos permite chegar a um lado fantástico, irreal, a partir de coisas muito concretas. Mas tenho tendência a afastar-me de teorias, é-me difícil explicar como é que o cinema, os filmes que vi, me influenciaram, penso que é uma coisa mais intuitiva. Vale a pena correr o risco.
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depois do Sirk, já houve o Fassbinder, que também adorava melodramas e se encarregou de reformular aquelas histórias de cordel. Mas acho sinceramente que se pode acreditar na inocência do Sirk. Essa inocência ajudou-me a ser o mais honesto possível com a história que queria contar.
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Senti que precisava de arriscar, de ir até ao limite das situações, e que se acreditasse no lado desmedido das cenas, no seu exagero, elas podiam funcionar, tornar-se verdadeiras.
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Creio que há em «Odete» uma harmonia rara entre a decoração, o guarda-roupa, a fotografia e a música. Se estiver de acordo, uma harmonia clássica a que o cinema contemporâneo talvez já não dê o mesmo valor. Sentiu que estes elementos eram decisivos para a construção das personagens, ou para qualquer outra finalidade?
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A partir de um certo momento, as histórias de Odete e Rui já não se podem separar. Chegamos à cena final, que é uma das mais ousadas que vi no cinema contemporâneo. Nesse último plano em que os papéis das personagens e os géneros se transformam, ficamos com a sensação que é a morte que faz a «mise-en-scène». Sentiu que o filme «galopou», passo a expressão, para aquele fim?
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«Galopar» é uma boa expressão... Para mim, a última cena é o fim de um
