Friday, December 30, 2005

Odete


O amor é mais forte do que a morte no novo filme de João Pedro Rodrigues, estreado na «Quinzaine des Réalisateurs» do último Festival de Cannes. A história é original, ousada, polémica e assemelha-se aos melodramas de Hollywood dos anos 50, esse género tão popular que.
.
.
usei os artifícios do cinema e é verdade que procurei o lado onírico dos filmes de Sirk, que me comovem imenso. Acho que o cinema nos permite chegar a um lado fantástico, irreal, a partir de coisas muito concretas. Mas tenho tendência a afastar-me de teorias, é-me difícil explicar como é que o cinema, os filmes que vi, me influenciaram, penso que é uma coisa mais intuitiva. Vale a pena correr o risco.
.
.
depois do Sirk, já houve o Fassbinder, que também adorava melodramas e se encarregou de reformular aquelas histórias de cordel. Mas acho sinceramente que se pode acreditar na inocência do Sirk. Essa inocência ajudou-me a ser o mais honesto possível com a história que queria contar.
.
Senti que precisava de arriscar, de ir até ao limite das situações, e que se acreditasse no lado desmedido das cenas, no seu exagero, elas podiam funcionar, tornar-se verdadeiras.
.
Creio que há em «Odete» uma harmonia rara entre a decoração, o guarda-roupa, a fotografia e a música. Se estiver de acordo, uma harmonia clássica a que o cinema contemporâneo talvez já não dê o mesmo valor. Sentiu que estes elementos eram decisivos para a construção das personagens, ou para qualquer outra finalidade?
.
A partir de um certo momento, as histórias de Odete e Rui já não se podem separar. Chegamos à cena final, que é uma das mais ousadas que vi no cinema contemporâneo. Nesse último plano em que os papéis das personagens e os géneros se transformam, ficamos com a sensação que é a morte que faz a «mise-en-scène». Sentiu que o filme «galopou», passo a expressão, para aquele fim?
.
«Galopar» é uma boa expressão... Para mim, a última cena é o fim de um caminho que não podia tomar outro sentido, uma figuração que tende irremediavelmente para ali. A Odete regressa para desempenhar o papel de Pedro. É o único plano do filme em que o fantasma é espectador e actua, e o Pedro sou eu, o olhar dele é o meu.
.
excertos de uma entrevista por Francisco Ferreira do Expresso

3 Comments:

Blogger Marco Lourenço said...

para a totalidade da entrevista carreguem sobre o nome do post - é um link para o jornal expresso

vejam

4:32 PM, January 04, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
»

3:19 PM, August 11, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Greets to the webmaster of this wonderful site! Keep up the good work. Thanks.
»

10:29 PM, August 16, 2006  

Post a Comment

<< Home