Thursday, August 03, 2006

estórias de um Portugal conservado em águardente

O parque ficou sozinho e vazio. As altas copas das árvores formavam uma abóboda verde. Os troncos dos plátanos e das bétulas desenhavam na verdura as suas manchas brancas. Não se ouvia voz nem passo humano. As folhas caíam rodopiando devagar em largos círculos e pousavam quase sem ruído na macieza do chão. Aqui e além estalavam ramos secos. Aqui e além um pássaro cantava. Ervas trémulas dançavam à menor brisa. No ar pairava um perfume de maçã de Outono. S M B
.
:: foi assim, numa abóboda de verde e lua, que ontem mergulhámos num portugal cristalizado, onde o século XVIII teima a perpétuar-se ::
.
ontem entre jantares, cafés e pacotes de açúcar, conseguimos estar na apresentação do Bitcho Bravo, um livro de Ricardo Rodrigues, um conhecido da casa. uma noite passada no jardim da regaleira [na foto].
.
Bitcho Bravo – editado pela D. Quixote, integrado na colecção :Cadernos de Reportagem: – é a primeira obra de Ricardo Rodrigues. Um livro que passa a fronteira de grande reportagem e ingressa num romance. Um uivo mau de um lobo que é bom?
.
:: A maldição sente-se por toda a região do Barroso, no lado transmontano do Gerês. É, afinal, uma terra de esquecidos, onde o lobo ainda consegue resistir. Aqui, aprende-se desde a infância que o bitcho bravo tem poderes sobrenaturais e é amigo do diabo. Faz-se-lhe caça. Lobo peludo não pode por isso confiar em lobo calvo, o animal que se levanta em duas patas e mata tudo o que encontra pela frente. Mas todas as guerras têm os seus dissidentes e, neste caso, ele chama-se Chico dos Lobos. Esse que passa noites na serra a falar com as alcateias. ::
.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home