Tuesday, March 06, 2007

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17.fevereiro

nesse dia, a "tia Delores" decidiu atravessar a linha do caminho-de-ferro por aquele local, para evitar dar uma volta "muito grande". Ao transpor um carril, no entanto, caiu e não conseguiu voltar a levantar-se, por causa da artrose que lhe "enfraquece" as pernas.

"A muito custo, lá me consegui sentar no meio da linha, e por ali fiquei seguramente uns dez minutos, à espera que alguém passasse para me ajudar". Mas não apareceu ninguém. "Quem passou foi o comboio. Foi Deus e Nossa Senhora de Fátima que me salvaram", conta a idosa. Não esconde os momentos aterradores por que passou quando olhou em frente e viu o comboio aproximar-se na sua direcção. "Ainda esbracejei a ver se o maquinista me via no meio da linha, mas qual quê?", recorda, sempre com umas gargalhadas à mistura.

Denotando um sangue-frio e uma lucidez impressionantes, Maria Delores deitou-se ao longo da linha e ficou ali "quietinha e muito direitinha", à espera que o comboio lhe passasse por cima. "Olhe, comecei a rezar e a pedir perdão a Deus pelos meus pecados. Mas quando vi que a primeira carruagem passou por cima de mim e nem me tocou, pensei logo que estava safa. E safei-me mesmo", conclui.

O comboio acabou por parar, cobrindo ainda parte do corpo dela, e o maquinista foi a correr ver o que se tinha passado, tendo ficado "embasbacado" quando a viu sã e salva, "sem um único arranhão".

"Vieram logo outras pessoas, levantaram-me e ficaram a segurar-me, mas eu disse-lhes logo que não precisava que me segurassem, porque me aguentava muito bem em pé. Perguntaram-me também se eu estava boa da cabeça, e eu disse que, se calhar, estava melhor do que eles", gracejou. […]

Maria Delores sacudiu a terra da roupa e lá seguiu a sua viagem, porque nesse dia tinha combinado ir com uma filha a Viana do Castelo "tratar de assuntos importantes". […]

"Nesse dia, por acaso, até dormi muito bem. No outro a seguir é que o meu coração começou a bater com muita força, mas meti um comprimido debaixo da língua e passou logo", conta Maria Delores. […] "Às vezes, baixo-me para ver a altura [que vai da parte de baixo do comboio até à linha]. E olhe que, às vezes, até me arrepio." by Vítor Costa Pereira – a.lusa

*será que há uma tia dolores em todo nós?

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